Sentou-se sobre a beira da janela, olhou todas aquelas
pessoas seguindo rumo às suas casas. Sentiu a brisa tocar suavemente sua pele,
respirou fundo e começou a lembrar dos velhos tempos. Suspirou… ai como era
feliz – como era -, agora aquele sentimento parecia o único a lhe dar paz,
aquela escolha parecia a sua última saída – sua única.
Olhou para o quarto e viu todos os seus objetos. Como era
bom quando era apenas um garotinho, sem pensar no amanhã, sem se defender do
hoje, sem se arrepender do passado.
Quanta saudade de quando batia figurinhas na rua e jogava bolinhas de gude.
Lembrou de quando tinha sete anos e aprendeu a andar de bicicleta, como seu pai
não tinha dinheiro, teve que aprender a andar com a do vizinho; no seu
aniversário de oito anos, seu pai comprou-lhe uma bicicleta azul, não era nova,
mas era tudo o que ele queria, como era feliz – como era.
Lembrou de quando completou o ginásio, durante a formatura a menina que ele amava – o doce amor de um
adolescente – o beijou, seu primeiro e inesquecível beijo. Quando saiu do
colégio, recebeu seu diploma de conclusão e passou no curso de engenharia civil
em uma faculdade de São Paulo, o sorriso de seu pai ainda tão presente em sua
memória que poderia até desenhar com perfeição aquele momento, ele falava com
orgulho que tinha um filho engenheiro. Ai! Como era feliz – como era.
Depois de concluir o curso de engenharia civil, já se viu
sem os pais que morreram em um acidente. Morar só, parecia a cada dia mais
sufocante. Vivia em meio a tantas pessoas, mas vivia tão sozinho consigo,
beijava tantas pessoas, mas não sentia nada por ninguém; sua essência parecia
morta. Pensou em casar-se, porém se viu desapaixonado. Tinha tudo, quando abria
as mãos só via calos, quando sorria só via tristeza, tinha tudo, seus amigos
amavam seu dinheiro, quando doente havia uma pessoa ao seu lado – recebia, no
entanto, para estar ali – tinha tudo… como foi feliz – como foi.
Tornou a observar as pessoas, quantas daquelas eram feliz?
Se perguntava, quantas? Queria saber se alguém ali já pensou em algum momento
colocar-se nessa situação na qual se pôs. São muitos andares, todos são tão
pequenos lá embaixo, todos se perdendo dia após dia em suas loucuras. Tentava
imaginar como seria observar 15 andares passando, queria pousar como uma
pequenina pena no chão. Tudo se organiza e forma um ser, depois tudo se
desorganiza e forma um louco sedento por mais a cada dia, mas parecia que os
dias iam dando menos. Como foi feliz – como foi.
Esse era o momento, soltou-se, tão livre… aquela sensação
podia nunca acabar. Muitas pessoas pararam pra ver, ali acabou mais um perdido
em sua loucura, perdido… só mais um de muitos perdidos.
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