domingo, 20 de junho de 2010

Um grito que ninguém ouviu


Sentou-se sobre a beira da janela, olhou todas aquelas pessoas seguindo rumo às suas casas. Sentiu a brisa tocar suavemente sua pele, respirou fundo e começou a lembrar dos velhos tempos. Suspirou… ai como era feliz – como era -, agora aquele sentimento parecia o único a lhe dar paz, aquela escolha parecia a sua última saída – sua única.
Olhou para o quarto e viu todos os seus objetos. Como era bom quando era apenas um garotinho, sem pensar no amanhã, sem se defender do hoje, sem se  arrepender do passado. Quanta saudade de quando batia figurinhas na rua e jogava bolinhas de gude. Lembrou de quando tinha sete anos e aprendeu a andar de bicicleta, como seu pai não tinha dinheiro, teve que aprender a andar com a do vizinho; no seu aniversário de oito anos, seu pai comprou-lhe uma bicicleta azul, não era nova, mas era tudo o que ele queria, como era feliz – como era.
Lembrou de quando completou o ginásio, durante a formatura  a menina que ele amava – o doce amor de um adolescente – o beijou, seu primeiro e inesquecível beijo. Quando saiu do colégio, recebeu seu diploma de conclusão e passou no curso de engenharia civil em uma faculdade de São Paulo, o sorriso de seu pai ainda tão presente em sua memória que poderia até desenhar com perfeição aquele momento, ele falava com orgulho que tinha um filho engenheiro. Ai! Como era feliz – como era.
Depois de concluir o curso de engenharia civil, já se viu sem os pais que morreram em um acidente. Morar só, parecia a cada dia mais sufocante. Vivia em meio a tantas pessoas, mas vivia tão sozinho consigo, beijava tantas pessoas, mas não sentia nada por ninguém; sua essência parecia morta. Pensou em casar-se, porém se viu desapaixonado. Tinha tudo, quando abria as mãos só via calos, quando sorria só via tristeza, tinha tudo, seus amigos amavam seu dinheiro, quando doente havia uma pessoa ao seu lado – recebia, no entanto, para estar ali – tinha tudo… como foi feliz – como foi.
Tornou a observar as pessoas, quantas daquelas eram feliz? Se perguntava, quantas? Queria saber se alguém ali já pensou em algum momento colocar-se nessa situação na qual se pôs. São muitos andares, todos são tão pequenos lá embaixo, todos se perdendo dia após dia em suas loucuras. Tentava imaginar como seria observar 15 andares passando, queria pousar como uma pequenina pena no chão. Tudo se organiza e forma um ser, depois tudo se desorganiza e forma um louco sedento por mais a cada dia, mas parecia que os dias iam dando menos. Como foi feliz – como foi.
Esse era o momento, soltou-se, tão livre… aquela sensação podia nunca acabar. Muitas pessoas pararam pra ver, ali acabou mais um perdido em sua loucura, perdido… só mais um de muitos perdidos.

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