Ela parecia desligada, com aqueles brilhantes olhos negros
perdidos no horizonte, eu estava bem ali a sua frente observando sua expressão
tão vazia. O sol estava a pino, as ruas sem uma alma sequer, e ali naquele
cômodo só eu e ela. Arriscava uma pergunta, recebia um aceno com a cabeça ou
até mesmo um ligeiro sorriso angustiado como resposta.
Buscava um contato visual, fugia. Quando percebi a lágrima
caiu e um som curto e baixo rasgou o silêncio, soluços presos e dolorosos.
Secou seu rosto rudemente e tornou a perder-se no horizonte, agora parecia mais
vazia.
Soava como primavera, aquelas flores firmes, a tarde fresca
desejando nunca acabar e eu buscava em seus olhos as respostas para tudo que
explodia em meu coração. O sol seguia seu declínio mostrando-nos o fim daquela
tarde, corando as nuvens levemente de rosa, e toda aquela paisagem tomava tons
mais alaranjados.
O vento soprava lentamente e as árvores pareciam dançar a
nossa volta, e as folhas voavam sobre o lago colocando-se em meio aos pássaros.
Quando o vento tocava seus cabelos, eles se soltavam e se entregavam
delicadamente aquele toque e era fabuloso te ver ali.
Sabe aqueles pedaços deixados sobre aquelas ruas por onde andei, aquelas lágrimas que caíram sobre aqueles lugares, sabe aqueles dias irreparáveis? Meu coração parece que bate cada vez mais forte inchando sobre meus pulmões e não permitindo que eu respire. E eu comecei a procurar por todo espaço e tempo possível, qual foi minha falha? Porque isso foi uma falha, sentir isso, causa e efeito, você erra em algum momento e isso traz uma consequência, talvez ruim como é o caso.
Eu quis me soltar dessas algemas apertadas, mas quando eu estava prestes a escapar, você jogou-me em uma cela escura e solitária. Naquele momento eu perdi o sentido de autonomia que tinha sobre mim. Eu ando por ai pensando, tentando descobrir onde que se encontra a chave que me tira desse cativeiro emocional.
Eu quis falar todas aquelas palavras engasgadas. Eu queria muito voltar e continuar andando, não foi influência da bebida, mas foi, talvez, de um amor contido.
Não sei parar de pensar no seu olhar ignorando o que eu dizia. As músicas levam o meu sono e eu digo que foi tudo um tremendo erro.
Acho que desaprendi a querer outras pessoas, só sei sentir o peito acelerado e cada vez mais apertado, as mãos tremulas que até me impediram de guiar o carro e parecer noite o dia que era para ser claro quando te vejo.
E quando meu coração dá sinais de que te esqueceu, ai peito meu, novamente me engana. Não penso em você todo tempo, mas a medida que penso basta para vir em lamento de que nada disso acaba.
Se quiseres saber (sei que não quer), não cai uma lágrima dos meus olhos agora, mas eu choro ainda. Faço desse meu peito, vazio do seu nada correspondente amor, cheio de esperanças. Mas não espero que olhe pra mim, a esperança é do esquecimento, esquecer-te é o que levo como norte.
Enrolo esse novelo de linhas embaraçadas, tentando colocar ordem nessa sala. Essa sala é cheia de buracos, passagens e saídas, como se fosse um labirinto, cada canto com seu enigma, e eu tento descobrir a resposta pra todo esse sentimento que me envolve e me arremessa novamente nesse berço de solidão. Mas é aquela solidão que fica quando de tanto pensar, eu fico vazia.
Só voltaria atrás se eu pudesse tirar esse gosto de ódio que corre em minhas veias e que sinto quando bebo do meu próprio sangue, tentando usar como veneno para matar as dores quando a lâmina corta a pele.
Pensei em escrever uma carta para o regente das histórias de todas as vidas pra perguntar: qual é esse q de viver estranhamente com essas coisas inconformáveis, com essas pessoas estranhas (ou normais, não sei dizer, não posso dizer ao certo)?
Constante uso e desuso, um vai e volta... Chego a crer que debochas de mim, ou o que fazes?
“Vai escolher o que não poderá ter. Vai ter o que nem chegou a querer. Vai pensar na ferida que já sarou apenas pelo fato de que conforta saber que um dia doeu. Vai chorar sem motivos. E quer saber, seja prático e lúcido, lave suas mãos, escolha o ter como impossível, já que realmente é, escolha o querer como algo evitável, escolha o sofrer como algo esquecido.”
Creio que escreve isso tudo. Se for isso, por que não disseste antes? O tempo perdido não pode ser reavido.
Quando algo dói, inventamos qualquer coisa diferente pra doer, menos o que realmente machuca. Quando temos vontades tentamos suprir com coisas que escondem as vontades, porém quando elas vêm à tona não temos forças, e nos descobrimos tão fracos que mal podíamos pensar o quanto somos vulneráveis
Sinto como se não pisasse em minha terra, como se tudo isso não me pertencesse, toda essa mentira mal inventada, mal dita que é viver com todas essas caras, com todos esses caras. Meu lugar parece estar além disso, abaixo ou acima, tanto faz, a questão é que não pertenço a nada disso, a toda essa sujeira na qual coloquei minhas mãos. Não sei limpar-me desse limbo.
Sinto como se o seu gosto ainda estivesse aqui, como se o seu cheiro me perseguisse cada vez que eu respiro, como se suas mãos me envolvessem quando durmo, como se o seu olhar pudesse guiar meus passos, porque eles sempre querem me levar até você.
Se eu pudesse tocar minhas lembranças, só pra sentir novamente as mesmas sensações, que agora são apenas devaneios. Se eu pudesse tocar o sorriso que iluminava minha vida e colocá-lo dentro de um lampião, aposto como ele nunca se apagaria e eu seria completamente egoísta em querer tê-lo só pra mim.
Roubaria, também, o cheiro da sua pele, faria o mais delicioso dos perfumes e carregaria junto ao meu coração num cordão de ouro. E cada vez que o vento soprar um pouco mais forte, eu correrei para ele, para que eu possa sentir algo que mais se aproxima do toque das suas mãos.
E tudo isso na verdade são milhões de frases sem nenhuma cor.
Percebemos tarde que abraçamos um mundo maior que alcance dos braços. Quando estragamos os momentos findando de forma confusa, nos perdemos porque fazemos outros se perderem. Eu sequei as lágrimas do meu ego. Eu sequei as lágrimas, da dor que cravei nas veias te fazendo chorar. I’m so sorry about all.
Eu olho pra você como se olhasse a última preciosidade em minha vida, eu olho como se nada mais importasse, já não posso dormir, já não posso falar pra você, com você. Eu vejo seus olhares vazios vindo em minha direção, e tento imaginar seus pensamentos no espelho de olhos secos.
Você foge, se esconde, não se rende, como pode ser tão duro consigo? Meu intimo grita um amor que quer existir, que quer viver, reagir. Eu sento ao seu lado e esqueço tudo pra ficar ali só observando.
A clareza dos fatos me diz novamente que eu andei por caminhos tortos, se eles me trouxeram até aqui, novamente estou amando erroneamente. Mas quando olho sua sensibilidade, sua fragilidade eu não consigo achar o erro, meu coração desaba apaixonado. E eu quero lutar todas as suas batalhas, eu quero me perder em todos os seus caminhos, para que no final sejamos apenas eu e você.
Quando volto ao seu lado, me permito um amor engasgado. Me interno em meros ensaios. Remeto-me a culpa de ver-te com um outro alguém, sem nem ao menos ter tomado coragem em dizer-te o quanto te quero.
Eu andava sob aquela fininha chuva, eu a vi desenhar seu
corpo lá de longe, pude ver que era você; eu queria correr, eu queria chamar
você, eu queria abraçar você, e então hesitei, imóvel, pude ver então, que não
estava só. Meu queixo, que tremia com o frio, endureceu, já não sabia se o que
escorria sobre minha face eram as àguas da chuva ou as dos meus olhos.
Comecei a perceber que meus olhos já estavam chuvos como
as nuvens, as nuvens chorosas como meu coração. Um calor invadiu- me, ou meu
corpo expeliu- me, mas sei que não podia sentir nada além do que palavras não
são passíveis de dizer, de explicar.
Via aqueles dois
próximos, seus rostos se desenhando cada vez mais visíveis, cada vez mais
reconhecíveis. Aqueles dois, e eu. Implorava para que minhas pernas me
obedecessem, mas elas pareciam não pertencerem a mim, pedia em meu silêncio
para que passassem sem se darem conta de quem estava ali.
Desisti de pensar, de mandar meus membros mexerem, e o frio
me invadiu novamente, eu tremia, chorava, soluçava, e aqueles dois passaram. A
mim coube apenas esquecer.
Sobra um certo asco, sobra um certo vazio ou pode ser que esteja cheio demais, cheio do que deveria estar vazio e vazio do que deveria estar cheio. Sobra uma podridão, uma falta de ser, uma falta de ter, uma falta de prazer.
Deixa, deixa que o vento leve toda a sujeira, limpá-la é muito doloroso. Eis que não há ideal algum, eis que suja as mãos nas próprias palavras, se perde logo depois de achar que estava certa, deveras nem certeza há. Pára, para ver a vida que passa, ai pensa estar vivendo, mas parou, morrendo... e não vivendo, sobrevive até que tudo sufoca. Morrendo... e não vivendo.
Sentou-se sobre a beira da janela, olhou todas aquelas
pessoas seguindo rumo às suas casas. Sentiu a brisa tocar suavemente sua pele,
respirou fundo e começou a lembrar dos velhos tempos. Suspirou… ai como era
feliz – como era -, agora aquele sentimento parecia o único a lhe dar paz,
aquela escolha parecia a sua última saída – sua única.
Olhou para o quarto e viu todos os seus objetos. Como era
bom quando era apenas um garotinho, sem pensar no amanhã, sem se defender do
hoje, sem se arrepender do passado.
Quanta saudade de quando batia figurinhas na rua e jogava bolinhas de gude.
Lembrou de quando tinha sete anos e aprendeu a andar de bicicleta, como seu pai
não tinha dinheiro, teve que aprender a andar com a do vizinho; no seu
aniversário de oito anos, seu pai comprou-lhe uma bicicleta azul, não era nova,
mas era tudo o que ele queria, como era feliz – como era.
Lembrou de quando completou o ginásio, durante a formatura a menina que ele amava – o doce amor de um
adolescente – o beijou, seu primeiro e inesquecível beijo. Quando saiu do
colégio, recebeu seu diploma de conclusão e passou no curso de engenharia civil
em uma faculdade de São Paulo, o sorriso de seu pai ainda tão presente em sua
memória que poderia até desenhar com perfeição aquele momento, ele falava com
orgulho que tinha um filho engenheiro. Ai! Como era feliz – como era.
Depois de concluir o curso de engenharia civil, já se viu
sem os pais que morreram em um acidente. Morar só, parecia a cada dia mais
sufocante. Vivia em meio a tantas pessoas, mas vivia tão sozinho consigo,
beijava tantas pessoas, mas não sentia nada por ninguém; sua essência parecia
morta. Pensou em casar-se, porém se viu desapaixonado. Tinha tudo, quando abria
as mãos só via calos, quando sorria só via tristeza, tinha tudo, seus amigos
amavam seu dinheiro, quando doente havia uma pessoa ao seu lado – recebia, no
entanto, para estar ali – tinha tudo… como foi feliz – como foi.
Tornou a observar as pessoas, quantas daquelas eram feliz?
Se perguntava, quantas? Queria saber se alguém ali já pensou em algum momento
colocar-se nessa situação na qual se pôs. São muitos andares, todos são tão
pequenos lá embaixo, todos se perdendo dia após dia em suas loucuras. Tentava
imaginar como seria observar 15 andares passando, queria pousar como uma
pequenina pena no chão. Tudo se organiza e forma um ser, depois tudo se
desorganiza e forma um louco sedento por mais a cada dia, mas parecia que os
dias iam dando menos. Como foi feliz – como foi.
Esse era o momento, soltou-se, tão livre… aquela sensação
podia nunca acabar. Muitas pessoas pararam pra ver, ali acabou mais um perdido
em sua loucura, perdido… só mais um de muitos perdidos.
Só de ver-te minhas pernas desfalecem
Sentir-te é o capricho do impossível
Ouvir-te me acalma e desespera
E já não sei se minh'alma mais se agita ou se aquieta
Compreender esse sentimento deixo aos sábios
Desfrutar dele deixo aos oportunos
Platonizá-lo e eternizá-lo...
Isso eu o faço
Dizem que é amor, dizem que é paixão
Mas ninguém sabe o que diz meu coração
Dizem que é uma falta, uma carência
Quem sabe não é só querência?!
Às vezes te olhando, você parece não existir
Fecho os meus olhos e abro, você ainda está ali
Busco olhar em teus olhos, coração acelerado
Percebo então que o tal sentimento não tinha acabado
Suba lá e veja como é lindo, vamos suba… saia dai e vá, não importa o quanto dói, amanhã, eu prometo… não vai doer mais. Faça tudo o que estiver ao seu alcance, faça-me sorrir.
Achei graça quando a vi aparecer linda, sorri quando sorriu para mim, abracei tão forte que parecia que nunca mais ia embora.
Sonhe mais, sonhar nem paga mesmo, delire nas coisas simples porque elas se vão e o que sobra é só o resto. Entenda, nunca está totalmente sozinha, apenas se quiser ser só.
Hoje amanheceu, nem imagino como foi a manhã, mas sei que essa tarde começou ensolarada. Mas eu continuo aqui trancada, não quero ver nem ouvir ninguém... só quero pensar, até agora eu pensei bastante e pude descobrir que sempre estrago tudo com todo mundo, não sei ser melhor ou boa o suficiente apenas para o que me faz bem.
Cansei de não saber o que fazer. Às vezes da vontade de correr, correr até a hora que não puder mais e quando eu cair de cansaço, que alguém me segure e apenas me diga que tudo está bem, que tudo está no seu devido lugar. Cansei de lutar uma guerra dentro de mim na qual eu já estou derrotada, de levantar todos os dias e ver que me sinto sempre assim, sempre sem saber onde é meu lugar.
Queria morrer todos os dias e renascer, e voltar a sonhar, sorrir com alegria, e ter idéias loucas, que eu tenha para o que viver, aprenda a amar de verdade, possa marcar mesmo que bem pouquinho o dia de alguém, não preciso mudar o mundo, só deixar minha marquinha boa.