Eu olho pra você como se olhasse a última preciosidade em minha vida, eu olho como se nada mais importasse, já não posso dormir, já não posso falar pra você, com você. Eu vejo seus olhares vazios vindo em minha direção, e tento imaginar seus pensamentos no espelho de olhos secos.
Você foge, se esconde, não se rende, como pode ser tão duro consigo? Meu intimo grita um amor que quer existir, que quer viver, reagir. Eu sento ao seu lado e esqueço tudo pra ficar ali só observando.
A clareza dos fatos me diz novamente que eu andei por caminhos tortos, se eles me trouxeram até aqui, novamente estou amando erroneamente. Mas quando olho sua sensibilidade, sua fragilidade eu não consigo achar o erro, meu coração desaba apaixonado. E eu quero lutar todas as suas batalhas, eu quero me perder em todos os seus caminhos, para que no final sejamos apenas eu e você.
Quando volto ao seu lado, me permito um amor engasgado. Me interno em meros ensaios. Remeto-me a culpa de ver-te com um outro alguém, sem nem ao menos ter tomado coragem em dizer-te o quanto te quero.
Eu andava sob aquela fininha chuva, eu a vi desenhar seu
corpo lá de longe, pude ver que era você; eu queria correr, eu queria chamar
você, eu queria abraçar você, e então hesitei, imóvel, pude ver então, que não
estava só. Meu queixo, que tremia com o frio, endureceu, já não sabia se o que
escorria sobre minha face eram as àguas da chuva ou as dos meus olhos.
Comecei a perceber que meus olhos já estavam chuvos como
as nuvens, as nuvens chorosas como meu coração. Um calor invadiu- me, ou meu
corpo expeliu- me, mas sei que não podia sentir nada além do que palavras não
são passíveis de dizer, de explicar.
Via aqueles dois
próximos, seus rostos se desenhando cada vez mais visíveis, cada vez mais
reconhecíveis. Aqueles dois, e eu. Implorava para que minhas pernas me
obedecessem, mas elas pareciam não pertencerem a mim, pedia em meu silêncio
para que passassem sem se darem conta de quem estava ali.
Desisti de pensar, de mandar meus membros mexerem, e o frio
me invadiu novamente, eu tremia, chorava, soluçava, e aqueles dois passaram. A
mim coube apenas esquecer.