segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Amontoadas, num canto esquecido do quarto, algumas dezenas de livros empoeirados. Tinham aqueles que falavam de história, filosofia, outros falavam de amor, entre os que escreveram grandes romances, havia as biografias de vidas gloriosas, de glórias interrompidas, de heróis, uma viagem em grandes emoções que ocorreram em outras décadas, outros séculos e atualmente. Era como sonhar acordado, ficava encarando o espelho e vendo em si tantas personagens quanto pudesse lembrar, criar.
Poderia eu ser Pierrot? Tantas dores vivi, que até saberia quem seria Arlequim, e minha amada Colombina. Talvez fosse eu Bentinho, a encarar aqueles olhos de cigana oblíqua e dissimulada, aqueles olhos que eram como mar. Eu, sem medo que tive de sentir, mergulhei, mas quanto mais fundo alcançava, mais a pressão parecia comprimir meu peito, e eu entrava em meio às suas incógnitas, como se toda a superfície desses olhos morosos fosse a armadilha para trancar esse meu coração e depois me bastasse a sofreguidão.
Mas foi essa linha tênue, que não sabe definir, uma situação um tanto delicada, em que no momento que amava, sentia, como se precisasse sentir, doer. Necessitava ter ali, em seus braços, a pessoa que fazia com que sentisse explodir luzidias emoções, queria aquele calor de se apaixonar, ter em seu colo guardada parte de seus sorrisos, de sua felicidade, ao mesmo tempo em que tinha ali suas dúvidas, questões sem respostas, e a incompreensível vontade de sair, de estar só.
Mas depois se via como um Pierrot apaixonado, imergindo em tristeza, mas a tristeza que causou a si mesmo, de alguém que um dia teve e hoje é seu platônico, como se o sofrer fosse aquilo que fazia com que se atraísse pela paixão. Tinha um certo charme, invisível, porém sabia conquistar por seus curtos versos, por sua boa fala, contudo o tempo mostrava que, ao contrário da sua conquista, não poderia manter uma relação.

Amadurecia mais a ideia que formava das pessoas do que os laços, era fácil observar à distância. Eu olhava pra ela como se pudesse ver sua perfeição, transcendendo toda a sua forma física que ali a minha frente se materializava, via o brilho de seus olhos. Todos os brilhos que me conquistaram, eram meu engodo, depois faiscavam em desprezo à minha condição de mártir. Perfurava como adaga, rasgando a carne, cortando as vísceras, causando tremenda agonia.